A mais recente encíclica do Papa Bento XVI - intitulada Spe Salvi (Salvos na Esperança) - tem por tema a esperança cristã e constitui um presente muito oportuno para este mundo em crise; um mundo dominado pela descrença e por um vago temor perante o futuro, cujo horizonte se apresenta nublado por diversas ameaças terrorismo, proliferação nuclear, droga, ataques à família e à vida humana, alterações climáticas e problemas ecológicos, doenças incuráveis, etc.. Nestas circunstâncias, é possível ter esperança? Que esperança?
A história do século XX, particularmente a que contempla o desenvolvimento do chamado "socialismo real" na Rússia e noutros países, permite ver claramente o grande erro do materialismo a ideia de que seria possível formar o "homem novo" a partir de fora. De facto, "a pessoa humana não é só o produto das condições económicas, nem se pode curá-la apenas do exterior, criando condições económicas favoráveis" (SS, 21). De modo semelhante, o bem-estar moral do Mundo não poderá jamais ser garantido simplesmente mediante as estruturas, por mais necessárias e válidas que elas sejam. Aliás, mesmo as melhores estruturas "só funcionam se numa comunidade subsistem convicções que sejam capazes de motivar os homens para uma livre adesão ao ordenamento comunitário" (SS, 24). A liberdade humana, que é sempre frágil, necessita de convicções; mas quem inspirará essas convicções?
A esperança de que o ser humano seja redimido através da ciência também se revela falaz. Na realidade, "a ciência pode contribuir muito para a humanização do Mundo e dos povos. Mas pode também destruir a Humanidade e o Mundo, se não for orientada por forças que se encontram fora dela. (…) Não é a ciência que redime o ser humano. O ser humano é redimido pelo amor" (SS, 25, 26).
Na sucessão dos dias, o ser humano vai alimentando muitas esperanças - menores ou maiores. Mas, sem a grande esperança, que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Essa grande esperança só pode ser Deus, que é maior que todas as contingências sociais e pessoais, incluindo a própria morte. "Deus é o fundamento da esperança - não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim cada indivíduo e a Humanidade no seu conjunto" (SS, 31). Um "Deus que, em Cristo, nos mostrou a sua face e abriu o seu coração" (SS, 4). Resulta daqui um grande desafio para os cristãos de hoje: para além do testemunho da caridade, eles são chamados também a dar testemunho da esperança e a ser capazes de responder - "com doçura e respeito" - a quem perguntar o sentido e a razão da sua esperança (cf. 1Pe 3,15).
Contemplando a história do cristianismo, pode verificar-se que o Evangelho não é simplesmente uma "boa-nova", ou seja, uma comunicação de conteúdos que eram ignorados e que passam a ser conhecidos através do seu anúncio, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida de quem o acolhe. Ou seja, a mensagem cristã não é apenas "informativa", mas também "performativa" (cf. SS, 2), pois gera uma esperança que tem a capacidade de transformar e de conferir à vida do crente uma nova base, um novo fundamento (cf. SS, 8).
Animados por uma esperança que não espera, os cristãos são convidados a empenhar-se seriamente na sociedade presente, ainda que reconheçam que esta será sempre "uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada" (SS, 4). De facto, embora o objecto último dessa esperança tenha a ver com a realidade futura, ela "dá-nos já agora algo da realidade esperada (...). Ela atrai o futuro para dentro do presente" (SS, 7). Animando o cristão durante todo o seu caminhar, a esperança consumar-se-á na eternidade, que não será uma "sucessão contínua de dias do calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade" (SS, 12).
A história do século XX, particularmente a que contempla o desenvolvimento do chamado "socialismo real" na Rússia e noutros países, permite ver claramente o grande erro do materialismo a ideia de que seria possível formar o "homem novo" a partir de fora. De facto, "a pessoa humana não é só o produto das condições económicas, nem se pode curá-la apenas do exterior, criando condições económicas favoráveis" (SS, 21). De modo semelhante, o bem-estar moral do Mundo não poderá jamais ser garantido simplesmente mediante as estruturas, por mais necessárias e válidas que elas sejam. Aliás, mesmo as melhores estruturas "só funcionam se numa comunidade subsistem convicções que sejam capazes de motivar os homens para uma livre adesão ao ordenamento comunitário" (SS, 24). A liberdade humana, que é sempre frágil, necessita de convicções; mas quem inspirará essas convicções?
A esperança de que o ser humano seja redimido através da ciência também se revela falaz. Na realidade, "a ciência pode contribuir muito para a humanização do Mundo e dos povos. Mas pode também destruir a Humanidade e o Mundo, se não for orientada por forças que se encontram fora dela. (…) Não é a ciência que redime o ser humano. O ser humano é redimido pelo amor" (SS, 25, 26).
Na sucessão dos dias, o ser humano vai alimentando muitas esperanças - menores ou maiores. Mas, sem a grande esperança, que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Essa grande esperança só pode ser Deus, que é maior que todas as contingências sociais e pessoais, incluindo a própria morte. "Deus é o fundamento da esperança - não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim cada indivíduo e a Humanidade no seu conjunto" (SS, 31). Um "Deus que, em Cristo, nos mostrou a sua face e abriu o seu coração" (SS, 4). Resulta daqui um grande desafio para os cristãos de hoje: para além do testemunho da caridade, eles são chamados também a dar testemunho da esperança e a ser capazes de responder - "com doçura e respeito" - a quem perguntar o sentido e a razão da sua esperança (cf. 1Pe 3,15).
Contemplando a história do cristianismo, pode verificar-se que o Evangelho não é simplesmente uma "boa-nova", ou seja, uma comunicação de conteúdos que eram ignorados e que passam a ser conhecidos através do seu anúncio, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida de quem o acolhe. Ou seja, a mensagem cristã não é apenas "informativa", mas também "performativa" (cf. SS, 2), pois gera uma esperança que tem a capacidade de transformar e de conferir à vida do crente uma nova base, um novo fundamento (cf. SS, 8).
Animados por uma esperança que não espera, os cristãos são convidados a empenhar-se seriamente na sociedade presente, ainda que reconheçam que esta será sempre "uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada" (SS, 4). De facto, embora o objecto último dessa esperança tenha a ver com a realidade futura, ela "dá-nos já agora algo da realidade esperada (...). Ela atrai o futuro para dentro do presente" (SS, 7). Animando o cristão durante todo o seu caminhar, a esperança consumar-se-á na eternidade, que não será uma "sucessão contínua de dias do calendário, mas algo parecido com o instante repleto de satisfação, onde a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade" (SS, 12).
Mário F. S., Ferreira, Professor universitário in "JN do dia 23 de Março de 2008"
Recolha de António Ferreira